Saturday, March 31, 2007

C h u v a


As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

Mariza

Wednesday, March 21, 2007

E s q u e c e r . . .





"Perdoar … A capacidade de perdoar é mais recente. Não tem a ver com o homem da idade da pedra, por exemplo. Ninguém – Deus não existia ainda, lembram-se? -, ninguém perdoava nada ao homem primitivo e ele também não se sentia obrigado a perdoar. Um cacetada e estava o assunto arrumado. A capacidade de perdoar tem a ver com o homem mais … “evoluído”, isto é, com o homem que já fez tanta asneira que tem de perdoar “razoavelmente” para não ser chateado constantemente pelo outro homem, pela mulher ou por si próprio, por causa daquela invenção estúpida mais recente que é o complexo de culpa.
A capacidade de amar… Passamos todos por aí, temos essa capacidade e vamo-la perdendo, quantas vezes por falta de exercício…
Mas tudo isto é normal. O que eu acho fantástico é a capacidade de esquecer. Esquecer uma coisa má em nome de outra coisa – boa – que queremos lembrar. Esquecer que se aproveitaram para nos deitar abaixo, precisamente quando já estávamos em baixo, esquecer que se esqueceram de nós quando pensaram noutros. Esquecer hoje que amanhã vamos ter um problema para resolver, esquecer a chatice de agora para vivermos o bocado a seguir, esquecer que devíamos isto ou aquilo…
Se queremos sobreviver no presente e viver ainda no futuro, a quantidade de coisas que temos de aprender a esquecer!
É uma técnica que estou a desenvolver, esta de esquecer. Eu já nem me lembro porque é que fui buscar isto!...Ah!"


in, O País dos Jeitosos
José Pedro Gomes
Imagem - Google